sábado, 14 de maio de 2011

DEZ ANOS DE SAUDADES II

Peço licença a meus poucos leitores, neste dia que faz dez anos da partida de meu pai, para publicar essas linhas que as publiquei no centenário jornal O Mossoroense no dia do primeiro ano de seu falecimento. “As lembranças de toda uma vida passam no vídeo tape da memória no momento da partida de seu maior ente querido. O nosso pai.Sou das pessoas que se contentam muito facilmente com tudo. Agradeço a Deus pelo tempo de vida que vivi junto do meu pai. Analiso as coisas de uma forma distinta da maioria das pessoas. Não faço comparações do tipo, o que poderia ter ou tentar me igualar com os mais abastados da sorte. Ao contrário, me comparo com os que não conseguiram ou não conseguem ter a minha qualidade de vida. Daí, me sinto muito mais feliz. Essa é minha receita de vida. Entretanto, não é fácil assimilar, conviver com esta dor, esta ausência e esta saudade eterna. Seu Alcides, meu pai, era uma pessoa extremamente boa. Porém mudava de humor de uma hora para outra. Numa hora estava alegre, contende, e em outra hora se fechava, ficava taciturno... Entretanto, na maioria do tempo era muito alegre, muito vívido. Vê-lo definhar ao longo dos últimos onze anos de sua vida, foi uma tortura para todos nós, especialmente para D. Layzinha, sua companheira de 48 longos anos. Minha mãe. Seu Alcides foi um exemplo para todos os que o conheceram. Porém, longe de ser um ser perfeito. Entre nós mortais isto não existe. Não existe pessoa sem defeitos. Foi funcionário público federal, lotado na receita federal por toda a sua vida profissional, onde ingressou em concurso público no longínquo ano de 1950, sendo aprovado em terceira colocação em todo o país. Era uma pessoa ao mesmo tempo em que alegre, soturno. Gostava muito de estar só. Talvez pensando nas dificuldades de sua vida de origem humilde e no razoável número de filhos que educou com retidão e competência paterna. Mesmo assim nunca se negou a ajudar a quem quer que o procurasse.Orgulhava-se de nunca ter incomodado ninguém para conseguir qualquer que fosse o seu objetivo, cargo ou desejo. Sempre conseguiu tudo o que tinha e possuía através de seus próprios esforços. Mesmo já doente, nunca o vimos deitado que não fosse em seu leito e para dormir. Traço marcante em sua personalidade. Não presenciamos reclamar de nada que se relacionasse à dureza da vida. Não deixava se abater por nada. Talvez seja por estes traços marcantes de sua personalidade que não consigamos esquecê-lo tão facilmente.As recordações de suas lições de vida é o que nos confortam. Dizia o saudoso Cônego Sales Cavalcanti que nada justificava a morte. Este pensamento partindo de um religioso vem, tão somente, por em dúvidas a inexplicável e obscura vida eterna. Se ele, que era um religioso, tinha este pensamento de dúvidas, que dirá de nos simples mortais. A questão religiosa é por demais complexa. Não se chega a um consenso desta dimensão.Existiu um rei francês, que não recordo o nome, que no leito de morte despediu-se de sua amada dizendo: - Adeus, nunca mais nos veremos!. Isto é, nem na morte acreditou na vida eterna. Hoje, quando completa o segundo aniversário de sua morte, se é que isto se comemora, vejo o quanto é difícil me acostumar com a sua partida. Não há um só dia em que não sinta a sua falta e ao mesmo tempo sinta a sua presença, bem forte, em minhas lembranças.Só agora vejo como era bom vê-lo, mesmo doente, sentado em sua cadeira de frente para a televisão, calado e sem incomodar ninguém. Não incomodou ninguém nem na sua hora fatal. Como era duro, o meu velho. Um jequitibá. Entretanto, na minha incredulidade e descrença, sinto que nunca mais vou revê-lo. E isso me dói muito. Como é sem significado essa nossa vida... Mais doloroso ainda é saber que ainda resta à partida de todos nós...Especialmente doloroso para mim, posto que não tenho esperança alguma de revê-lo e vivo na mais completa e eterna lembrança de meu querido e saudoso pai”. Seu filho.

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